A escalada dos preços não afeta apenas diplomatas e negociadores. Moradores de Belém também estão sendo empurrados para fora de suas casas, vítimas de despejos motivados pela especulação imobiliária. Universitários, famílias e trabalhadores locais relatam aumento repentino nos aluguéis e pressão para desocupar imóveis que foram transformados em hospedagens temporárias. Evelyn Ludovina, estudante de 21 anos, recebeu uma ordem de despejo inesperada, junto com outros moradores, após o proprietário decidir converter o imóvel em acomodação para visitantes da COP 30.
A COP 30, que deveria ser um marco de inclusão e protagonismo amazônico, começa a deixar rastros de desigualdade antes mesmo de abrir suas portas. Casas simples estão sendo anunciadas por valores milionários, como uma residência de dois quartos avaliada em mais de R$ 2 milhões para o período da conferência. Em bairros como Batista Campos, imóveis modestos ultrapassam R$ 1 milhão por apenas 11 noites.
A pressão internacional cresce. Delegações africanas e asiáticas já formalizaram pedidos para que o evento seja transferido de Belém para outra cidade. A justificativa é clara: não há como discutir justiça climática em um ambiente onde o acesso à hospedagem se tornou privilégio. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP 30, classificou a situação como “revoltante” e reconheceu que os preços praticados em Belém ultrapassam em até 15 vezes os valores normais.
O governo brasileiro tenta equilibrar a equação com medidas paliativas. Foram contratados dois navios de cruzeiro para acomodar até 6 mil pessoas, escolas públicas estão sendo adaptadas como alojamentos temporários, e uma plataforma oficial de hospedagem foi lançada — embora ainda de forma limitada. A plataforma oferece cerca de 2.700 quartos com preços entre US$ 100 e US$ 220, mas ainda está longe de atender à demanda estimada de até 50 mil participantes.
Enquanto isso, o setor hoteleiro local se defende. Representantes alegam que cumpriram acordos com o governo, oferecendo tarifas acessíveis para países em desenvolvimento. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará afirma que disponibilizou 500 apartamentos com preços entre US$ 100 e US$ 300. No entanto, o descompasso entre oferta e demanda, somado à ausência de controle legal sobre os preços, tem alimentado o caos.
A COP 30 será a primeira conferência climática da ONU realizada na Amazônia. O Brasil tem a chance de mostrar ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento, sustentabilidade e inclusão. Mas, para isso, precisa garantir que o evento não seja lembrado como o encontro que excluiu quem mais precisava estar presente.
Falar de clima é falar de coletividade — e não há justiça ambiental sem justiça social. A COP 30 carrega consigo a promessa de dar voz à Amazônia e aos povos que historicamente foram silenciados. Porém, quando o acesso ao espaço é definido pela capacidade de pagar, essa voz se perde entre cifras. Que este momento sirva não só como alerta, mas como ponto de virada: a conferência precisa ser acessível, plural e coerente com os ideais que ela mesma representa. Caso contrário, estaremos diante de uma COP que aquece mais os lucros do que a consciência planetária.
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